24.3.11

na geladeira

  Pendurada me encontro, como uma peça de carne na geladeira de um açougue.
  Se olho para trás vejo o que fui, se olho para frente, já não sou.
 De repente, acordo do passado, um passado de fluxo de pensamentos e energia criativa, e me vejo aqui pendurada num lugar gélido e com cores parcas.
  Aqui pendurada, sinto a "gravidade" da situação. Mas que situação, eu me pergunto?
 Uma situação-surpresa, em que uma professora grávida de novas ideias, invenções, com desejo de atuar com a a arte e a vida na escola é pendurada na geladeira-escolar e tolhida de ocupar seu lugar principal, a sala de aula.
  Estar na geladeira é deixar de ser para virar coisa. Coisa que tem nome, "módulo", ou mais conhecido como professor eventual. Des-professorar, tapar buracos, fazer favores, dar aulas em doses homeopáticas, não criar vínculos.
  Virei zumbi, minha alma está vagando, só o corpo está presente. 
  Estou gelada, minhas energias criativas e minha vontade de atuar, pintar e bordar nos planos e nas ações também. Endureci.
 Preciso de fogo. Talvez faíscas. De resistência, de inspiração, faíscas de vida. Faíscas que só são encontradas na relação, no embate entre as gentes (professor+alunos), no cotidiano fora da geladeira e dentro do ambiente mais interessante da escola, a sala de aula.

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