Depois de um tempão sem escrever, aí vai um assunto que merece reflexão.
Uma
exposição vai além das paredes cheias de trabalhos pendurados e daquele dia, que
às vezes soa burocrático, em que a escola abre as portas para os familiares
apreciarem os “trabalhinhos” dos alunos.
Para
uma exposição acontecer, todo um processo de ensino-aprendizagem tem que
existir. Desde a contextualização do tema, a apreciação de inúmeras imagens, os
alunos serem instigados para terem curiosidade sobre quem foi aquele artista e
por que fez tal obra, as inúmeras aulas práticas para que tenham contato com diversos
materiais e técnicas,etc. Isso pode durar
muitos e muitos dias, às vezes meses.
Depois
de todo esse momento de contato com o tema, de produção, de suor e perguntas, chega
a vez da tão esperada exposição. Chega o momento do resultado de um processo ficar
à mostra. Sair apenas da relação
professor-aluno para ir de encontro com todos da escola, os outros alunos
crianças e adolescentes, os funcionários, os outros professores, os gestores. E
os alunos levam isso a sério. É possível ver que se dedicam da melhor maneira
possível, pois sabem que aquilo será
mostrado. E quando se mostra, para eles,
é sinal que seu trabalho está sendo valorizado.
Chega
então outro momento de muito trabalho, a montagem. Além de ter o objetivo final que é mostrar os
trabalhos da melhor forma possível, isto é, de maneira a não supervalorizar um
trabalho ou uma série mais do que a outra, o professor da escola pública tem um
obstáculo enorme, a falta de materiais. É o momento, em que a cabeça ferve e
tenta encontrar materiais que tornem a exposição bem organizada e bonita
visualmente. Expedições pela casa, pela casa de familiares, pergunta daqui e
dali. É então que tecidos, plásticos grandes, acetato fazem a escola ter mais
paredes disponíveis para trabalhos tão bonitos.
Horas
e horas de montagem. Tudo pronto. Já é possível, durante o intervalo, ver os
alunos circulando entre os trabalhos, alguns lendo as plaquinhas que contam um
pouco do trabalho, outros com os olhos brilhantes quando veem seu trabalho
exposto. Sorrisos são mostrados, dúvidas e estranhamento veem a tona, ao se
deparar com o trabalho de outros alunos.
Um
clima de respeito se desenha no ar, todo o trabalho de uma escola inteira, ali
pulsando, ao mesmo tempo, e os alunos se sentindo autores e não apenas reprodutores.
Aquilo tudo só estava acontecendo, pois havia as mãos e ideias deles.
Entretanto,
toda a beleza dessa história de aprendizagem e autoria, acabou de maneira
rápida. Numa nublada segunda-feira, os trabalhos pendurados na parte externa,
nas paredes de plástico e tecido, foram todos retirados e colocados embaixo de
uma mesa. Foram retirados, mesmo com a promessa que ficariam ali até a reunião
de pais.
Todo
trabalho e dedicação, que demorou pouco mais de um mês para ser construído
junto com os alunos, ficaram a mostra apenas um único dia. Exposições, em
nenhum lugar, museu ou galeria, duram apenas um dia. Exposições são feitas para
serem apreciadas com calma e também para serem vistas várias vezes. Por que na
escola abortam essa experiência rica que é o aluno ver o próprio trabalho ou o
trabalho do outro? Por que não aproveitar esse momento e falar sobre respeito
entre os alunos?
Respeito
é o que eu não consegui tirar dessa atitude, infelizmente. Se não se vê entre
os adultos, como poderemos então ensinar para as nossas crianças?
Vi
apenas uma mentalidade utilitarista. Mentalidade que cumpre de maneira eficaz
apenas as obrigações de calendário e leis e que não vê que uma simples
exposição de trabalhos de alunos pode conter sentimentos humanos e uma série de
aprendizagens que talvez sejam tão sutis
que ficam difíceis de serem compreendidas por mentes que prezam apenas pela cumprimento rápido e eficaz das coisas.