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Caros colegas,
Estou escrevendo esta carta, pois foi o modo que encontrei
para expressar o que estou sentindo nesse momento.
Desde o dia 29 de abril tenho comparecido a todas as
assembleias, de lá para cá já foram sete. Vou até lá, não por achar divertido e
prazeroso (se gasta condução, fica-se em pé por um bom tempo no sol e no frio e
corre-se o risco de não se conseguir nada), mas por acreditar que são nesses
espaços que podemos dar visibilidade à sociedade em relação ao caos e abandono que
padecem as escolas públicas, além de incomodar o compromissos engravatados do
prefeito e sua equipe e obrigar a mídia a tocar no assunto “educação pública”.
Mudanças não acontecem quando olhamos para nosso colega e
reclamamos que falta material, falta respeito dos alunos e dos seus pais, faltam
espaços adequados, falta profissionais especializados para os alunos de
inclusão, falta saúde para aguentarmos o estressante dia a dia. Quem nunca fez
uma reclamaçãozinha que atire a primeira pedra! Mas reclamar, infelizmente, não
move nem a poeira de giz nos nossos aventais.
Em 3 de maio iniciou a greve. Naquele momento fiquei
receosa, ponderei e pensei que talvez fosse melhor esperar mais negociações.
Porém, com o andamento das negociações percebi que não haveria grandes avanços.
Primeiro o governo sugeriu pagar os 11% referente à inflação, em 5 parcelas,
depois em 3 parcelas, mas com a condição de que nós não reivindicássemos NADA
nos próximos 3 anos. Poderemos nos calar se não podemos prever a inflação nos
próximos anos? Naquele momento queria entrar em greve. Mas como se o grupo que
faço parte não está? Será que meus colega professores estão contentes com o
salário que tem?
Além disso, no meio desse processo, os dois principais
sindicatos da educação se uniram. Algo inédito. Senti-me mais segura em participar
do movimento, pois ficou claro o quanto a negociação havia se fechado e o quão
urgente era a união.
Além de a negociação empacar, muitas mentiras foram
proferidas: primeiro o secretário Callegari disse que nosso salário era de
R$4500 reais, depois as diversas propagandas na tv (horário nobre da TV Globo)
mentindo que Haddad nos concedeu aumento (sendo que só está cumprindo a lei da
gestão passada). Será que essa é a postura de um prefeito que quer transformar
a cidade de São Paulo em uma cidade educadora? Será democrático mentir sem nos
dar espaço para reposta? Será educativo mentir para que a sociedade nos ache
lunáticos, pois lutamos contra um governo bom que faz Virada Cultural, dá
leite, instala 7500 pontos de ônibus modernos e que faz o favor de dar um
aumento aos professores concedido na gestão passada?
Isso, porém não era tudo, Haddad e Callegari ao verem que
não haveria mais alternativas, pois já haviam enrolado, desnegociado, mentido e
nada acabou com a greve, então deixaram para o final o pior: fizeram circular
um informativo sobre o apontamento de faltas, obrigando os diretores apontarem
faltas justificadas e injustificadas aos grevistas. Usou a arma do medo. “Já
que não aceitam as condições oferecidas pelo governo por bem, que seja por mal”,
devem ter pensando os dois.
Pensei então que sexta, dia 17 de maio, a greve acabaria,
pensei que as pessoas iriam ficar com medo dos descontos e voltariam a
trabalhar. Mas o que vi na assembleia foi diferente. Havia centenas de pessoas
indignadas com a atitude punitiva do governo e decidiram continuar. Porém na
minha escola, muitas pessoas que se comprometeram que iriam paralisar, voltaram.
Será que o medo é maior do que a honra à palavra e o comprometimento com os
demais colegas que paralisaram? Será que não vale a pena correr o risco por uns
dias, do que 3, 4 anos ou a carreira inteira de desprestígio e defasagem
salarial?
Chegada a assembleia de hoje (21/05), os dois presidentes
dos sindicatos Claudio e Ismael, foram chamados para subir e negociar. Aguardamos
com um misto de esperança e tensão. Ao descerem, confirmaram o pior: o desconto
imediato dos dias parados, algo que não aconteceu nas gestões anteriores. Houve
um desrespeito imenso ao direito de greve , pasmem, vindo de um partido que
carrega o “trabalhador” no nome. Essa a meu ver foi a última cartada para
enfraquecer e acabar de vez com nosso movimento. Porém, as pessoas decidiram
manter a greve mesmo correndo o risco de não ter dinheiro para fazer mercado no
fim do mês.
Você que teve a paciência de chegar até aqui, meu muito
obrigado e lhe faço um convite, de coração: pense e reflita sobre seu
cotidiano, sua relação com os colegas, o olhar que a sociedade tem para nossa
profissão, as degradantes condições que somos obrigados a trabalhar, as
mentiras que o governo está divulgando na televisão e sua atitude impiedosa ao
tirar o sustento daqueles que paralisaram. Será que tudo isso e muito mais que
poderá vir nos próximos anos, não serve como combustível para nos
solidarizarmos com os colegas que terão 20 dias descontados e todos pararmos na
sexta-feira? Sim todos temos compromissos, família e contas à pagar, porém
corremos o risco daqui uns anos de as contas ultrapassarem o valor do nosso
salário e a escola ser um lugar pior que cadeia.
Enfim, acredito que cada um carrega algum
descontentamento/frustração com a profissão escolhida, esta que deveria ser a
mais bela e valorizada de todas, pois ela é a base de todas as outras
profissões.
Pensem com carinho. Abraços de esperança.
Carolina
Profa Artes