23.5.13

Carta aos professores sobre a greve

Escrevi essa carta aos meus colegas de escola, especialmente aos que não aderiram o movimento, após me sentir desrespeitada por um governo que diz "do diálogo" e que quer transformar a cidade de São Paulo em "cidade educadora", porém pune o direito de greve que toda pessoa que trabalha tem, com ameaças de corte de salário.
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Caros colegas,
Estou escrevendo esta carta, pois foi o modo que encontrei para expressar o que estou sentindo nesse momento.
Desde o dia 29 de abril tenho comparecido a todas as assembleias, de lá para cá já foram sete. Vou até lá, não por achar divertido e prazeroso (se gasta condução, fica-se em pé por um bom tempo no sol e no frio e corre-se o risco de não se conseguir nada), mas por acreditar que são nesses espaços que podemos dar visibilidade à sociedade em relação ao caos e abandono que padecem as escolas públicas, além de incomodar o compromissos engravatados do prefeito e sua equipe e obrigar a mídia a tocar no assunto “educação pública”.
Mudanças não acontecem quando olhamos para nosso colega e reclamamos que falta material, falta respeito dos alunos e dos seus pais, faltam espaços adequados, falta profissionais especializados para os alunos de inclusão, falta saúde para aguentarmos o estressante dia a dia. Quem nunca fez uma reclamaçãozinha que atire a primeira pedra! Mas reclamar, infelizmente, não move nem a poeira de giz nos nossos aventais.
Em 3 de maio iniciou a greve. Naquele momento fiquei receosa, ponderei e pensei que talvez fosse melhor esperar mais negociações. Porém, com o andamento das negociações percebi que não haveria grandes avanços. Primeiro o governo sugeriu pagar os 11% referente à inflação, em 5 parcelas, depois em 3 parcelas, mas com a condição de que nós não reivindicássemos NADA nos próximos 3 anos. Poderemos nos calar se não podemos prever a inflação nos próximos anos? Naquele momento queria entrar em greve. Mas como se o grupo que faço parte não está? Será que meus colega professores estão contentes com o salário que tem?
Além disso, no meio desse processo, os dois principais sindicatos da educação se uniram. Algo inédito. Senti-me mais segura em participar do movimento, pois ficou claro o quanto a negociação havia se fechado e o quão urgente era a união.
Além de a negociação empacar, muitas mentiras foram proferidas: primeiro o secretário Callegari disse que nosso salário era de R$4500 reais, depois as diversas propagandas na tv (horário nobre da TV Globo) mentindo que Haddad nos concedeu aumento (sendo que só está cumprindo a lei da gestão passada). Será que essa é a postura de um prefeito que quer transformar a cidade de São Paulo em uma cidade educadora? Será democrático mentir sem nos dar espaço para reposta? Será educativo mentir para que a sociedade nos ache lunáticos, pois lutamos contra um governo bom que faz Virada Cultural, dá leite, instala 7500 pontos de ônibus modernos e que faz o favor de dar um aumento aos professores concedido na gestão passada?
Isso, porém não era tudo, Haddad e Callegari ao verem que não haveria mais alternativas, pois já haviam enrolado, desnegociado, mentido e nada acabou com a greve, então deixaram para o final o pior: fizeram circular um informativo sobre o apontamento de faltas, obrigando os diretores apontarem faltas justificadas e injustificadas aos grevistas. Usou a arma do medo. “Já que não aceitam as condições oferecidas pelo governo por bem, que seja por mal”,  devem ter pensando os dois.
Pensei então que sexta, dia 17 de maio, a greve acabaria, pensei que as pessoas iriam ficar com medo dos descontos e voltariam a trabalhar. Mas o que vi na assembleia foi diferente. Havia centenas de pessoas indignadas com a atitude punitiva do governo e decidiram continuar. Porém na minha escola, muitas pessoas que se comprometeram que iriam paralisar, voltaram. Será que o medo é maior do que a honra à palavra e o comprometimento com os demais colegas que paralisaram? Será que não vale a pena correr o risco por uns dias, do que 3, 4 anos ou a carreira inteira de desprestígio e defasagem salarial?
Chegada a assembleia de hoje (21/05), os dois presidentes dos sindicatos Claudio e Ismael, foram chamados para subir e negociar. Aguardamos com um misto de esperança e tensão. Ao descerem, confirmaram o pior: o desconto imediato dos dias parados, algo que não aconteceu nas gestões anteriores. Houve um desrespeito imenso ao direito de greve , pasmem, vindo de um partido que carrega o “trabalhador” no nome. Essa a meu ver foi a última cartada para enfraquecer e acabar de vez com nosso movimento. Porém, as pessoas decidiram manter a greve mesmo correndo o risco de não ter dinheiro para fazer mercado no fim do mês.
Você que teve a paciência de chegar até aqui, meu muito obrigado e lhe faço um convite, de coração: pense e reflita sobre seu cotidiano, sua relação com os colegas, o olhar que a sociedade tem para nossa profissão, as degradantes condições que somos obrigados a trabalhar, as mentiras que o governo está divulgando na televisão e sua atitude impiedosa ao tirar o sustento daqueles que paralisaram. Será que tudo isso e muito mais que poderá vir nos próximos anos, não serve como combustível para nos solidarizarmos com os colegas que terão 20 dias descontados e todos pararmos na sexta-feira? Sim todos temos compromissos, família e contas à pagar, porém corremos o risco daqui uns anos de as contas ultrapassarem o valor do nosso salário e a escola ser um lugar pior que cadeia.
Enfim, acredito que cada um carrega algum descontentamento/frustração com a profissão escolhida, esta que deveria ser a mais bela e valorizada de todas, pois ela é a base de todas as outras profissões.
Pensem com carinho. Abraços de esperança.
Carolina
            Profa Artes 

Greve

Professores reunidos em frente ao Gabinete do Prefeito, no Viaduto do Chá.
Olá leitores,
Desde o dia 03 de maio, os professores da prefeitura de SP estão em greve. Nossa pauta de reivindicações inclui: aumento de salário não inferior a inflação, diminuição do número de alunos por sala (hoje são 35), fim das terceirizações e abertura de novos concursos (pois não há profs suficiente na rede).
Porém, a Prefeitura vem se mostrando intransigente e não aceita nossas propostas.
Segue um vídeo, feito por um professor da rede, esclarecendo mais sobre os motivos da nossa greve.
Abraços,

https://www.youtube.com/embed/4abwkO9fB9U

20.5.13

Imagine um mundo sem...

Imagine um mundo sem pães no café, sem a vacina para a gripe, sem a luz e o telefone. 
Imagine um mundo sem leis, onde cada um faria o que quiser, matando e humilhando por dinheiro,
Imagine um mundo sem a possibilidade de reinventar as formas e sons, sem a arte e os artistas,
Imagine um mundo sem professores, e verá que nem padeiros, médicos, cientistas, engenheiros, advogados, juízes, artistas, músicos e o fruto de seus ofícios existiriam.

19.5.13

Endereço do Twitter


Agora estou mais ativa no twitter. Meu endereço @carolcortinove.
Para aqueles que querem apoiar a greve dos professores da cidade de SP, usem a TAG 

#helpeducsp. Abraços